domingo, 20 de março de 2011

Perdi o meu verso.

 Antes de qualquer coisa já aviso que hoje não tem verso, achei esse papel e perdi meu vero. Acabou a inspiração, o café, a tristeza, a memória, o sono, o talento. Perdi tudo, perdi meu verso.
 A pouco perdi a tampa da minha caneta, e antes que a tinta seque eu preciso desesperadamente escrever, derramar toda essa tinta nesse papel pra não ver a minha preciosa caneta morrer. Perdi também a tampa da garrafa térmica, por isso tive que beber desesperadamente o café para não vê-lo esfriar. Perdi todas as esperanças em tudo, por isso ainda estou escrevendo para não chegar ao final da vida e ter vivido em vão, não precisa fazer muito sentido, já não tem tanto valor, talvez tanto quanto esse papel que eu achei aqui, não tanto quanto a tampa da minha caneta preciosa que tantas vezes me sentiu chorar, nem mesmo tanto quanto a tampa da garrafa térmica, a qual sem ela não tem nenhum valor. O pior foi ter perdido meu verso, se esse é o fim da minha vida, talvez aquele fosse o melhor de todos, seria o ultimo, não faço ideia. Teria curiosidade em tentar me lembrar, mas perdi a vontade, a curiosidade pra mim perdeu o sentido, o mundo perdeu sentido quando eu perdi meu verso.
 A tinta dessa caneta esta pra acabar e ela esta pra morrer, eu amava essa caneta, muitas vezes só com ela eu desabafei, mas já não estou tão triste, perdi a sensibilidade. No inicio dessa crônica quis escrever qualquer outra coisa, estruturar uma trova ou improvisar o verso, mas de tudo fiz o inverso, nem tentei uma rima, na primeira linha perdi a vontade, nas outras perdi a linha. Não faz mais sentido tentar ter talento, eu perdi a vontade e nem mesmo lamento.
 Perdi o romantismo e perdi quando a paixão, eu nem percebi dei meu coração. E que fique com ela, já não me faz falta. Perdi duas tampas, um amor, um monte de tempo, alguns sentimentos e perdi meu verso. Não tenho vontade de continuar essa crônica, só continuo em consideração a minha preciosa caneta. Não sei, talvez nunca tenha escrito algo tão ruim, ou talvez nunca tenha escrito algo tão bom, sei lá, perdi meu senso critico quando perdi meu verso, me perdi na primeira frase disse lixo, perdi a paciência ao notar que a tinta dessa caneta, que já não me é tão preciosa ainda esta na metade, não sei o que escrever mesmo com tanta cafeína eu perdi o ânimo de continuar, nem desabafar, perdi a vontade e isso perdeu o sentido, já não quero mais tentar agradar ninguém, não escrevo pra mim e pra você muito menos, eu perdi tudo e você, desculpe, mas perdeu o seu tempo. Você me odeia? Nem ligo. Você quer me matar? E daí? Eu já não faço tanta questão de viver, a quer saber dane-se tudo, dane-se a minha falta de vontade de viver e dane-se a minha preguiça de morrer, dane-se a tinta da minha caneta e dane-se você.
 Caramba isso foi bom, acho até que posso escrever algo sobre isso, um desabafo, um dane-se tudo, só preciso de outro papel e talvez outra caneta. Posso usar aquela que estou vendo naquela estante do outro lado do meu quarto, se recuperar as minhas forçar pra levantar. Não eu vou agora antes que eu perca essa inspiração que eu acabei de recuperar. Não acredito ao levantar eu percebo que o que acreditava ser outra caneta era somente a tampa perdida da minha preciosa caneta, recuperei a alegria a agora que minha caneta, boa e velha caneta recuperou sua preciosidade eu posso escrever com ela mesma. Não acredito ao voltar a sentar na minha cama eu percebo que por todo esse tempo estava deitado em cima da tampa da garrafa térmica e nem percebi, recuperei até meu humor agora, só falta encontrar um papel, mas quer saber, nem preciso eu posso escrever neste mesmo...
 Eu não acredito, sinto até vergonha em dizer, visto que a pouco recuperei o meu senso de ridículo, mas preciso lhes confessar. Para quem teve a paciência de ler essa crônica até aqui preciso confessar que ao virar a folha eu encontrei o meu verso. O tão estimado verso perdido por todo esse tempo estava no verso.

Cassius Cesar. Sorocaba-SP no verso do verso, 22 de março de 2011

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